Manejo integrado controle eficiente de pragas e doenças em hidropônia.
A população brasileira atualmente busca incessantemente uma alimentação saudável, a partir de produtos isentos de resíduos de defensivos. Esta é uma realidade que exige do produtor hidropônico a busca de informações que gerem conhecimento aplicado em sua produção em função da adoção de defensivos biológicos, que pode ser parcial ou total no cultivo de hortaliças em hidropônia.
Assim, este artigo pretende elucidar alguns pontos quanto à adoção deste tipo de manejo, conhecido como MIP e MID, ou seja, manejo integrado de pragas e doenças.
O começo
O primeiro ponto relevante é a necessidade, por parte do produtor hidropônico, do conhecimento da ocorrência temporal dos ciclos de pragas e de doenças ao qual seu ambiente (cultivo protegido) está sujeito.
Tais informações são mapeadas ao longo de pelo menos três anos de cultivo, fator este que gera experiência ao produtor. Quando falamos do conhecimento das pragas ou das doenças, não podemos também nos esquecer de que a sua ocorrência está intimamente ligada ao microclima da estufa. Assim, a associação de temperaturas amenas e umidade baixa favorece a incidência de oídio. Por outro lado, altas umidades associadas a temperaturas elevadas são condições adequadas para o surgimento de Pectobacterium (ou erwinia).
Uma solução com temperaturas acima de 30oC, com biofilme presente (algas) e plantas suscetíveis são condições que predispõem ao ataque de Phytium.
Soluções biológicas
Uma das apostas nos dias atuais é o uso do controle biológico em hidropônia. Define-se como controle biológico a busca da manutenção do equilíbrio entre populações que causem danos ao cultivo de plantas comerciais e de populações que as controlam, conhecidas agronomicamente como inimigos naturais.
Assim, ao adotarmos o controle biológico em hidroponia como premissa fundamental para a redução de pragas e doenças, devemos ter “em mente” que as pragas e doenças presentes no cultivo hidropônico não serão dizimadas e, sim, que haverá uma manutenção destas populações causadoras de prejuízos econômicos em um nível que não compro- meterá a sustentabilidade do negócio; este conhecido como nível de dano econômico.
Este nível é aceitável para o produtor quando ele estiver acima do ponto de equilíbrio para o cultivo comercial de uma cultura, que é, basicamente, quando as receitas pagam as despesas.
Questões básicas são levantadas por produtores interessados na adoção deste método de controle de pragas e doenças, tais como: existem produtos biológicos aplicáveis à hidropônia? Sua eficiência é comprovada? Qual é o custo? Qual o período de carência? Qual a dose aplicada? Como deve ser tomada a decisão para a aplicação?
Para respondermos tais questionamentos, primeiramente o conhecimento do triângulo epidemiológico é importante, uma vez que toda a eficiência do controle está em função das inter-relações entre os três pontos deste triângulo.
Ponta a ponta
Em cada vértice têm-se: o ambiente (microambiente, no caso da hidroponia), a doença ou praga e o hospedeiro, ou produto hidropônico. Assim, temos algumas situações que favorecerão o desequilíbrio nestas inter-relações, como por exemplo, uma planta com as raízes mortas por falta de oxigenação (hospedeiro – hipoxia radicular), que está em função de uma temperatura acima de 31oC da solução nutritiva, associa- da à baixa declividade da bancada e altas temperaturas na estufa (ambiente) e a presença de Pythium na solução (doença), que a partir de todo o contexto (ambiente x hospedeiro) causará danos severos ao sistema de cultivo.
Assim, se um vértice não for fator contribuinte para a expressão da doença, a possibilidade de infecção ou infestação torna-se baixa ou nula. Portanto, é de extrema importância ressaltar que, há pelo menos 10 anos, algumas empresas vêm desenvolvendo soluções importantes para que o produtor aplique o controle biológico no campo, com uma eficiência alta ao fazer uso em cultivo protegido.
Fique atento
A partir da possibilidade desta anulação da doença ou praga, pode-se mensurar a eficiência do controle biológico, que será mais eficiente quanto melhor for o monitoramento destas inter-relações. Assim, não é plausível, por exemplo, considerar que o Trichoderma e o Bacillus subtilis irão atuar de forma eficiente se a solução nutritiva estiver acima de 31oC e repleta de algas e restos de raízes da(s) colheita(s) anterior(es).
Fazendo a retórica quanto aos questionamentos supracitados, sim: existem nos mercados excelentes produtos biológicos a serem adotados no manejo fitossanitário para o cultivo hidropônico, com uma eficiência que, via de regra, é mais alta que em sistemas orgânicos, pois temos um ambiente propício ao estabelecimento dos inimigos naturais, que é o cultivo em ambiente de cultivo protegido.
Um exemplo é a adoção do controle biológico do ácaro rajado (Tetranychus urticae) para a cultura do morango hidropônico a partir do uso de ácaros predadores (Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis), ambos já comercializados no Brasil. Esta adoção apresenta alta eficiência de controle.
Viabilidade
Ressalta-se que o controle biológico pode apresentar valores mais elevados que o manejo químico, porém, a tendência é uma baixa dos mesmos a partir de
um volume a ser comercializado. Deve-se levar em consideração que tais medidas de controle devem ser avaliadas como investimento e agregação de valor pelo produtor.
Uma vez que existe a nulidade de resíduos químicos, a carência é baixa, assim como a dose aplicada, contudo, a decisão quanto à aplicação estará sempre em função do monitoramento adotado.
Por outro lado, existe uma discussão extensa e importante a ser adotada ao tratarmos do controle biológico em sistema de cultivo hidropônico, uma vez que fica mais evidente que a exigência do mercado consumidor por alimentos com alto padrão de qualidade e segurança alimentar eleva-se a cada ano. Porém, este mesmo mercado (do qual fazemos parte) não está acostumado com a presença do ácaro predador atacando o ácaro rajado. Assim, a nossa tendência é a não aquisição do produto, comprometendo todo o trabalho do produtor.
O amplo conhecimento das relações de predação e da quase impossibilidade de não se ter insetos presentes nas hortaliças hidropônicas com a adoção do controle biológico, são pontos a serem discutidos entre os três principais integrantes da cadeia produtiva de hortaliças hidropônicas, que são: o produtor, o atacadista e o consumidor final.
Neste contexto, percebem-se as inúmeras possibilidades de controle de pragas e doenças. Entretanto, cabe ao consumidor final o entendimento conceitual do NDE, que resumidamente é a aceitação da possibilidade de ocorrência de pragas e doenças nas hortaliças, uma vez que a utilização do controle biológico indica que haverá um equilíbrio entre pragas/doenças e hospedeiros, com a presença de ambos no produto comercial.
Importante saber
Temos que ter em mente que o cultivo hidropônico é uma ferramenta que o produtor faz uso para melhorar a produtividade e qualidade final dos alimentos, porém, este sistema não isenta a possibilidade de ataque de pragas e doenças.
Com isso, praticamente todas as culturas em cultivos hidropônicos podem serem atacadas por pragas e doenças, as quais são similares às que incidem nos demais sistemas (convencional e orgânico).
Cabe então, ao produtor, a adoção de técnicas de manejo, monitoramento e controle supracitadas, pois as pragas e doenças em hidroponia, como nos demais sistemas, podem ocasionar perdas de até 100% ao produtor hidropônico, como no caso de doenças radiculares.
Regiões mais afetadas
A incidência de pragas e doenças é distinta entre regiões. Devemos adotar o critério de variações climáticas e microclimáticas. Regiões de maiores temperaturas e UR% têm maior incidência de doenças fúngicas, por exemplo, a cercosporiose.
Em regiões quentes e secas a incidência de tripes é severa. Regiões frias e secas o ataque de oídio pode ser severo, como no Estado de São Paulo.
Há também a variação estacional, por exemplo, em São Paulo, no calor a incidência de tripes é alta e no frio a incidência de oídio é alta.
Assim, existe uma variação entre verão e inverno, cabendo ao produtor ou ao engenheiro agrônomo estabelecer um histórico regional e temporal para cada situação.
Fonte: Revista Campo e Negócio
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