Criação de camarão em estufas, valor agregado garantido. Uma novidade que vem sendo adotada pelos produtores é o cultivo de camarão em sistema de bioflocos, ou seja, sistema intensivo em estufas agrícolas.
O método em cativeiro é responsável pela produção de 90 mil toneladas por ano do produto, enquanto a extrativa fica com 10 mil toneladas. Esse sistema economiza água e reduz o custo de produção em 30%.
A técnica
O uso de estufas para a criação de camarões é uma realidade relativamente recente. Ela tem início com a chegada do vírus da mancha branca ao Brasil, o que obrigou os produtores de camarão em cativeiro a fazer investimentos e mudar a técnica de cultivo, visando o encurtamento dos ciclos nos cultivos extensivos, por meio do uso de berçários e raceways.
Em paralelo, o cultivo em biofloco e o cultivo em ambiente protegido durante o ciclo todo passou a ser desenvolvido. O controle do ambiente poderia dar segurança ao produtor sobre o resultado dos seus esforços, ao mesmo tempo em que permitiria um adensamento da produção, reduzindo a área necessária, economizando água, melhorando o atendimento às exigências ambientais e possibilitaria uma regularidade no fornecimento durante o ano todo. Aos poucos essa realidade foi se consolidando, e hoje ela já pode ser vista na maioria das fazendas produtoras de camarão do Brasil.
Aceitação
Assim que se identificou a necessidade do uso de estufas para a cobertura de berçários, raceways e viveiros para criação de camarão no Brasil, a Zanatta, tradicional fornecedora de estufas com unidades distribuídas em todo o Brasil, passou a ser demandada de tais produtos.
Vale salientar que essa demanda era por projetos um tanto diferentes daqueles já comercializados pela empresa para uso em outro nichos do mercado agrícola, o que obrigou a empresa a se aproximar dos produtores, entender suas necessidades e desenvolver novos projetos, visando atender da melhor maneira possível as necessidades dos produtores, não deixando de observar, no entanto, os cuidados e as necessidades técnicas construtivas para estufas, conhecidas pela empresa ao longo dos seus mais de 30 anos no mercado.
Desde então, a Zanatta desenvolveu projetos e vem produzindo e comercializando estufas que lhe colocaram na vanguarda no fornecimento para a carcinicultura brasileira, contando hoje, em seu portfólio, com estruturas circulares e retangulares para cobertura de berçários, raceways e viveiros para produção nos mais diversos tamanhos.
Benefícios do sistema
Uma grande vantagem para o produtor de camarão que usa estufas em seu cultivo é a segurança. Com o uso dessa técnica o produtor passou a ter mais certeza dos resultados dos seus cultivos. Com ela foi possível produzir camarões maiores com melhor preço, além de o produtor não ficar tão exposto a uma possível necessidade de venda emergencial do produto, quando normalmente fica refém de pressão dos compradores que, sabendo da vulnerabilidade do produtor, pagam menos pelo produto. A criação de camarão em estufas também aumentou a produtividade, porque permitiu o encurtamento dos ciclos nos cultivos extensivos em cativeiro. Isso porque uma parte do ciclo pode ser desenvolvido em berçários e ou raceways (pequenas áreas cobertas com ambiente controlado), reduzindo assim o tempo que os camarões permanecem nos viveiros abertos, até que estejam prontos para comercialização. Isso aumentou o índice de sobrevivência após a chegada do vírus da mancha branca, aumentando o número de ciclos por ano, compensando a redução na densidade dos cultivos, que se tornou obrigatória diante dessa nova realidade. Além disso, nos cultivos intensivos durante o ciclo todo foi possível um forte adensamento da produção.
Hoje se tem notícias no Brasil de cultivos com até 600 a 700 animais/m 2 nas melhores fazendas, o que é dezenas de vezes mais do que as densidades aplicadas nos cultivos extensivos em cativeiro. Como consequência, a técnica permite economia de água porque não gera efluentes, ou gera um volume muito menor desses efluentes, o que também melhorou a técnica do ponto de vista ambiental.
Por fim, a criação de camarão em estufas também tem permitido o cultivo em regiões frias. Nesse caso, a produção pode ser feita mais perto do público consumidor, fornecendo assim um produto de melhor qualidade, muito embora os custos de produção possam ser mais elevados e por isso precisarem ser compensados pelo público consumidor em troca de um produto mais fresco.
O projeto
O desenvolvimento de projetos de estufas para cultivo de camarão ainda está em movimento. Até pouco tempo não existia nenhuma experiência nesse sentido.
Sendo assim, para que os projetos fossem iniciados, foi necessária a realização de benchmarking em outros países, onde algumas experiências já estavam sendo realizadas e a adaptação dessas experiências à realidade climática do nosso país.
Foi somado a isso a experiência em fabricação de estufas para outros nichos de mercado e então, os primeiros projetos passaram a ser produzidos e instalados. No entanto, algumas perguntas foram sendo respondidas com o passar do tempo, entre elas: Qual seria o melhor plástico para a cobertura das estufas? Quanta luz deveria passar por este plástico? Como controlar o ganho de temperatura da água de forma que ela não fique fria e nem ultrapasse os limites desejados pela técnica? Como balancear o controle de temperatura e de luz do ambiente? As estufas para água marinha e para água não marinha (muitas vezes doce) devem ser iguais?
Todas eram perguntas que não tinham resposta, e vêm sendo obtidas de forma empírica pelo uso da técnica, que atualmente está em um bom estágio de desenvolvimento, mas que ainda pode e será melhorada.
Investimento x retorno
O cultivo de camarão em estufas exige investimento, contudo, a segurança da produção é o que garante o retorno. Boa parte desses investimentos, principalmente a estufa, pode ser financiadascom taxas acessíveis e com prazos de pagamento de até 10 anos. A vida útil das boas estruturas é maior que isso, o que deixa o produtor em certo conforto para realizar o investimento.
O camarão tem um ciclo curto, principalmente depois do uso dessas técnicas, o que garante um fluxo de entradas de caixa mais frequente e também significa mais segurança financeira para o produtor.
APOSTA QUE DEU CERTO
Luiz Paulo Sampaio Henriques é diretor operacional da Expopesca Aquicultura, em Cascavel, no interior cearense. A área produtiva é de 5,6 ha, dividida em oito viveiros berçários de 500 m 2 , oito viveiros de engorda de 4.000 m 2 , duas bacias de recirculação de 7.000 m 2 e duas bacias de tratamento de água, em uma área total de 52,9 ha.
Sistema de produção
O sistema de produção adotado é dividido entre o semi-intensivo, em seis berçários e seis viveiros de engorda, caracterizados pela densidade de estocagem em torno de 40 cam/m 2 , e o super intensivo, em dois berçários e dois viveiros de engorda, com densidade de estocagem em torno de 200 cam/m 2 , ambos bifásicos, sendo a primeira fase em viveiros berçários de 500 m 2 e a segunda em viveiros de engorda de 4.000 m 2 .
Manejo operacional
As pós-larvas são adquiridas de larviculturas comerciais especializadas, estocadas e alimentadas com rações micro-extrusadas nos viveiros berçários por aproximadamente 30 dias, quando são transferidas para os viveiros de engorda, com aproximadamente 1,0 g, onde continuarão a ser alimentadas com rações extrusadas por mais aproximadamente 90 dias, quando serão despescados com aproximadamente 15 gramas.
Durante todo o tempo de cultivo são monitorados diariamente, e corrigidos, quando necessário, diversos parâmetros físico-químicos da água, como oxigênio dissolvido, temperatura, salinidade, pH, alcalinidade, amônia, nitrito, nitrato, cálcio, magnésio, potássio, fosfato e sílica.
Ainda, é quantificado semanalmente o número de cada espécie de algas e bactérias patogênicas para nortear os protocolos de fertilizações e/ou inoculações na água, visando fomentar a supressão do que é ruim pelo que é bom, para manter um ambiente saudável e o bem-estar dos animais, avaliados também semanalmente por um protocolo de análise de desempenho zootécnico e sanidade.
Resultados zootécnicos
A produtividade média nos viveiros do sistema semi-intensivo é em torno de 4,0 ton/ha/ciclo, resultado de uma densidade de estocagem em torno de 40 cam/m 2 , sobrevivência final em torno de 65%, peso médio final em torno de 15 gramas e nos viveiros super intensivos é em torno de 20 ton/ha/ciclo, resultado de uma densidade de estocagem em torno de 200 cam/m 2, sobrevivência final em torno de 65%, peso médio final em torno de 15 gramas.
O fator de conversão alimentar (FCA) gira em torno de 1,5:1 em ambos os sistemas.
Espécie cultivada
A espécie cultivada é o Litopenaeus vannamei, originária no Pacífico, e a mais cultivada atualmente em todo o mundo pela rusticidade, bom desempenho em ganho de peso e adaptação a qualquer sistema de cultivo, com baixa demanda nutricional por proteína de origem animal, quando comparada às outras espécies.
Incrementos tecnológicos
Em ambos os sistemas de cultivo são utilizados aeradores mecânicos do tipo paddle wheel de 2,0 cv de potência, diferenciados apenas na quantidade e tempo de funcionamento. Nos berçários e viveiros de engordas semi-intensivos são utilizados dois e oito aeradores, respectivamente, das 20h30 às 06h30.
Já nos berçários e viveiros de engordas super intensivos dois e 12 aeradores são utilizados, por 24 horas, todos dispostos lateralmente, cumprindo, além do objetivo de dissolver oxigênio na água, a criação de uma correnteza circular, carreando toda a matéria orgânica provinda dos restos de rações, fezes, algas mortas e etc. Para o centro do viveiro de formato cônico, onde um dreno central os retira por meio de até 12 purgas de dois a cinco minutos por dia.
Quanto mais avançado o cultivo, maior a necessidade de retirar os excessos de matéria orgânica produzidos pelo sistema. Ainda como forma de facilitar essa retirada de matéria orgânica, bem como possibilitar uma limpeza e desinfecção perfeita entre os ciclos de cultivos, os fundos e paredes dos tanques são
cobertos com uma geomembrana do tipo PEAD de 1,0 mm de espessura. Os berçários e viveiros super intensivos são ainda cobertos por estufas de filme plástico, do tipo green house, com o objetivo de manter a temperatura acima de 29ºC e um gradiente de variação não maior que 10, quesito indispensável e extremamente eficiente para a viabilização de uma estocagem nessa grandeza de densidade, frente a uma enfermidade que nos assola desde 2014, conhecida popularmente como vírus da mancha branca.
Comercialização
A comercialização é feita da mesma forma que pela maioria dos produtores do produto fresco, negociando antecipadamente a despesca para um comprador que leva o gelo, as basquetas e um caminhão frigorífico para acondicionamento do produto para o transporte, que na maior parte se destina aos mercados atacadistas de pescados frescos ou indústrias de processamento do Sul e Sudeste do País.
O sucesso depende de muita dedicação na busca pelo equilíbrio do tripé genética, nutrição e manejo e muito controle em todos os processos da produção. Lembrando que não existe um momento mais ou menos crítico todos são importantes e decisivos para o resultado final.
Conheça os 10 maiores benefícios em produzir camarão em estufas!
Por: Volnei Lanfredi – Diretor operacional da Zanatta Estufas Agrícolas | Diego Maia Rocha – Biólogo e sócio-diretor da SynbiAqua Cultivos Aquáticos Ltda
Fonte: Revista Campo e Negócio